quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Emoção e Histeria no Funeral de Kim Jong-Il

Para uma multidão de habitantes daquele país distante e gelado que até agora acredita que a Coréia do Norte venceu a Copa do Mundo de 2010, um chamado para chorar publicamente pelo seu benevolente ditador não soa tão mal assim.  Segundo sugerem alguns jornais internacionais, “sob ameaças de sanções dos principais produtos e serviços básicos para a sobrevivência das famílias”, milhares de militantes apaixonados saíram às ruas esta semana para lamentar a morte do segundo líder vitalício da nação independente da ala norte da península.  Enquanto os sóbrios chorões asiáticos sorrateiramente enchiam as vias públicas para prestarem sua convincente homenagem afetiva, os canais comunistas se preparavam para fazer a cobertura de mais um evento histórico.  Em pleno século XXI, o mundo já habituado a assistir aos lamentáveis formatos televisivos de "reality-show", teve a oportunidade de assistir cenas de humilhação nacional em tempo real.  Os Coreanos tem, de fato, muito o que lamentar.

A perda de um líder sempre coloca em questão o futuro de qualquer instituição, e é capaz de produzir os mais diversos sentimentos.  Neste caso, um misto de insegurança, celebração, esperança e ameaça se traduziram na maior mobilização nacional vista nos últimos tempos.  O que mais impressiona nesta história toda é a histeria coletiva dos calmos Norte Coreanos perante a morte súbita de Kim Jong-Il. A descontrolada manifestação emotiva em massa foi executada com a mesma precisão e disciplina dos tão bem ensaiados e consagrados desfiles militares, típicos naquele país.  Enquanto dezenas de caixas-de-som davam o ritmo oficial ao luto através de narrações ufanistas e trilhas sonoras nostálgico-triunfantes, a cena das tradicionais senhoras camponesas chorando e se jogando no chão era no mínimo curiosa.  Seria uma injustiça com a nação Russa comparar esta movimentação frenética, semelhante na forma e nos motivos, ao relativamente comportado funeral de Stalin.  "Ai daquele que não chorar e lamentar!".  Injustiça mesmo seria compará-lo ao moderado funeral de Michael Jackson.  Difícil é não julgar os motivos de tamanha comoção vinda da geração fruto de uma já conhecida lavagem-cerebral, e famosa por protagonizar episódios manjados de demonstrações de estabilidade e contentação social para as lentes de repórteres comprometidos com o sistema interino.  No meio do tumulto, alguns soldados também emocionados tentam conter a descontrolada multidão, e aparentemente são capazes de fazê-lo graças a uma singela corrente humana mantida aos brados heróicos declamados em uníssono, enquanto projetam um misto de expressões de agonia e compaixão.  Sem precisarem utilizar sequer uma bala de borracha, ou um jato d'água, ou bombas de gás lacrimogêneo são capazes de manter a ordem social em um momento de caos.  Incrível! O povo das armas químicas pode ser contido apenas com a força da emoção.  Se o sul ficar sabendo disto, o norte corre grande perigo!  Por outro lado: que exemplo para os batalhões brasileiros que diariamente se veem obrigados a fazer uso da brutalidade para conter centenas de torcedores fanáticos, combater greves e passeadas de trabalhadores irados, ou desocupar a reitoria das universidades federais.  Dá para imaginar o que o povo Coreano passa quando não há repórteres ou mídias internacionais por perto.  Esse é o famoso sistema comunista que se perpetua no poder e não larga mais.  Assim é a Coréia do Norte, assim é Cuba.  Assim foi a Rússia, assim foi a Albânia, e assim seria o Brasil não fosse pelo golpe militar de 1964. Obrigado exército brasileiro! A bravura história tem seu preço, e até hoje muitos partidos e meios de comunicação condenam sua investida.  Por causa dos muitos que lutaram, a liberdade um dia abriu suas asas sobre nós.

Hoje, enquanto do conforto de meu berço esplêndido assisto as imagens desta confusa marcha fúnebre, posso desfrutar da plena e invejada democracia que prima pelo patriotismo, moralidade, e bem estar coletivo, num país que combate até as últimas consequências toda forma de corrupção ou interesses pessoais que favoreçam a falta de vergonha e desconstrução do país.  Graças a esta liberdade, desde 28/12/11 podemos nos gabar de sermos a sexta maior economia do mundo.  Já passamos a Inglaterra, e por isso hoje conseguimos pagar três vezes mais do que qualquer outro sul-americano paga por seus automóveis, mesmo os que são fabricados no Brasil.  Também conseguimos sustentar os altos e necessários juros que provém segurança e estabilidade ao sistema financeiro do país.  Temos mais de trinta impostos e contribuições compulsórias.  Mantemos as estradas mais caras do continente.  A cada dia que passa temos um maior índice de funcionários públicos per capta, o que nos possibilita ter um atendimento cada vez mais personalizado. Por fim, enquanto a estrutura interna se expande para receber os jogos da Copa de 2014, podemos celebrar os grandes incentivos esportivos que o país destina às comunidades competentes, para que tenhamos um elenco esportivo capaz de trazer para cá a tão cobiçada taça futebolística mundial, e impedir que a Coréia do Norte ganhe a Copa do Mundo mais uma vez.  Quanto privilégio.

Será que nosso modelo é melhor? Será que é pior? Qual é, afinal, o protótipo de governo padrão para o mundo moderno?  Será que ele conterá os abusos causados pelos "ismos" políticos sustentados durante tantas gerações?  Os recentes fatos políticos do cenário mundial, incluindo o fiasco do Euro, sugerem que o ser humano na tentativa de resolver seus problemas consegue ser, na melhor das hipóteses, "menos pior".  O mundo está mostrando o quão vulnerável, limitado e patético é a humanidade quando tenta por si só resolver aquilo é "irresolvível".  E assim caminhamos á procura da tão sonhada utopia que a idade média, o iluminismo e o pós-modernismo foram incapazes de apresentar. Onde será que erramos?  Qual será a chave que dará continuidade à próxima etapa neste círculo eterno em busca da fórmula infalível de alegria e satisfação coletivos?

Quero sugerir dois pensamentos:

1) DEPENDE DE NÓS: Qualquer poder que for regido por um mínimo de patriotismo e ética é preferível á melhor das organizações que promova a aparente liberdade, mas no fundo é marcada pela corrupção e imoralidade.  Neste mundo existem governos menos piores, e absolutamente piores.  Cabe a nós desenvolver o melhor da nossa aptidão e lutarmos por um futuro diferente.  Se o líder muda, mas não muda a sua linhagem, pouca coisa mudará.  Está em nossas mãos a responsabilidade de promover o surgimento de uma geração mais coerente, sendo nós mesmos pessoas mais coerentes.  Patriotismo e moralidade primeiro se conjugam no singular, depois no coletivo.  Depende de nós.

2) DEPENDE DE DEPENDERMOS DE DEUS: A história se repete.  Desde os primórdios, a civilização primitiva protagonizada pelos homo-habilis já lidava com os mesmos fenômenos sociais que vivemos hoje.  As soluções apresentadas eram similares, e eles ainda tinham tempo para representar seus paradoxos e respostas coletivas nas paredes sociais das cavernas.  Pouco mudou.  Como já dizia Salomão: "não há nada de novo debaixo do Sol" (Eclesiastes 1:9). Durante os milhares de anos de evolução social, o homem foi incapaz de surgir com uma resposta definitiva para seus problemas de governância.  Em muitos aspectos, houve clara regressão.  Eu mesmo preferiria ter assistido aos eventos acima descritos em desenhos de caverna, a assisti-los através de uma tela de LED em alta definição.  Enquanto o homem insistir que é capaz de prover para si mesmo a solução definitiva para seus problemas (seja ela absoluta, relativa, humanista, realista, orgânica, demográfica, centralizada, compartilhada, aleatória, igualitária, por objetivos, por competência, por hereditariedade, pioneira...), a história continuará a se repetir e as próximas gerações seguirão assistindo o velho e pitoresco filme em telas cada vez melhores.  Governo bom mesmo, só o Reino de Deus.  Este é o único modelo baseado no amor, e que é capaz de promover para hoje: igualdade, justiça, inclusão, coletividade, solidariedade, sustentabilidade, apoio às minorias, respeito à diversidade, aceitação incondicional, coerência, perdão, educação, saúde, segurança, conforto, alegria, prosperidade, avanço social, e paz.  Além destes atributos há um outro elemento que líder nenhum neste mundo, em qualquer época, jamais será capaz de oferecer: vida eterna.  Stalin morreu, Hitler morreu, Mussolini Morreu, Napoleão morreu,  Enver Hoxha morreu, Michael Jackson morreu, Genghis morreu, Bin Laden morreu, Juscelino Kubitschek morreu, Golias morreu, e Faraó morreu. Cristo também morreu, mas de todos estes grandes líderes, advinha quem foi o único que ressuscitou? "Bem aventurada a nação (lar, empresa, entidade, governo, pessoa, massa pública) cujo Deus é o Senhor" – Salmo 33:1.


Veja alguns vídeos das manifestações histéricas:


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